quarta-feira, 25 de junho de 2008


" Como daí chegaram ao amor, não o soube ele nunca. A verdade é que gostava de passar as horas ao lado dela."
Machado de Assis - A Cartomante

Por perto...


Num velho disco a vida se desfaz
Em poucos minutos
Pra onde aquele tempo te levou
Também vou
Pode ser numa canção
Pode ser no coração
Eu so quero ter você por perto
Se é pra tocar o ceu e me lembrar
Do canto de um anjo
Naquele empoeirado LP
Encontro você
Pode ser numa canção
Pode ser no coração
Eu so quero ter você por perto
Eu só quero ter você
Foi-se o tempo em que sozinho
Maltratei meu coração
Me contou um passarinho:
Tristeza é sem razão

(Pato Fu)

terça-feira, 24 de junho de 2008

Diálogo



"— E você, por que desvia o olhar?

(Porque eu tenho medo de altura. Tenho medo de cair para dentro de você. Há nos seus olhos castanhos certos desenhos que me lembram montanhas, cordilheiras vistas do alto, em miniatura. Então, eu desvio os meus olhos para amarra-los em qualquer pedra no chão e me salvar do amor. Mas, hoje, não encontraram pedra. Encontraram flor. E eu me agarrei às pétalas o mais que pude, sem sequer perceber que estava plantada num desses abismos, dentro dos seus olhos.)

— Ah. Porque eu sou tímida."

Rita Apoena

De Sally para Gillian


As vezes sinto que há um buraco dentro de mim,

um vazio que às vezes parece queimar.

Acho que, se pusesse meu coração no ouvido, ouviria o oceano.
E a lua hoje, tem um círculo ao redor. Sinal de confusão em breve.

Sonho em ser inteira. Em não ir dormir toda noite, desejando.
Mas, quando o vento está quente e os grilos cantam,
sonho com um amor que faça o tempo parar.

Só quero que alguém me ame. Quero ser vista...
Eu não sei. Talvez já tenha sido feliz.
Não quero acreditar nisso.

Mas não há ninguém, só aquela lua.

segunda-feira, 23 de junho de 2008


"Cola o teu desenho no meu

Pra ver se cola

Cola o meu retrato no teu

E me namora

Comigo nessa dança

Um sonho de criança

E o meu coração colado ao teu

Pra ver se cola."

(Pra ver se cola)

domingo, 22 de junho de 2008

Bossa de amores...



Ela decidiu um dia comprar um amor. Foi até a bolsa de amores, e investiu em ações. Ações de um moreno daqueles com papo bom. Daqueles que tocam violão enquanto decifram olhares. Daqueles morenos que ela construiu em meio aos seus livros e músicas. Um moreno que não ligasse ao ser notado com as mãos no queixo e os olhares distantes, enquanto sentado no café, numa tarde de quarta-feira. E seria assim porque estava amando, e o mundo precisava saber disso. Comprou as ações. Sentiu-se estúpida. Resolveu caminhar.

Anoiteceu. Era um daqueles bares. Auge da bossa nova. Antes, raridade era quem tivesse ouvido João Gilberto em Chega de Saudade e não tivesse voado com aquele jeito de cantar os acordes e falar a música. E o que era aquilo que ele tocava bonito assim? Ela ouvira pela primeira vez agora, naquela rodinha de violão. Era um moreno cantando.

Ele, pernambucano. Por essa época deixou a faculdade de Medicina de lado. Correu pra música. E acabou decidindo fazer faculdade de Arquitetura. Ela olhando de longe, nem imaginava que ele arquitetava música também. E quem se importava? Onde ela estava com a cabeça ao comprar ações na bolsa de amores?

Depois de muito se encontrarem em olhares de longe nessas noites boêmias, e de um estranho frio em meio ao calor do Rio, ele a viu chegar. Acompanhou-a de longe. Ela sentia o peso do olhar dele em si, e se fazia bonita. Nessa noite, só tocava Tom Jobim. As primeiras frases que ela o escutou musicar, foram exatamente os últimos versos de Tom em Das Rosas: Meus olhos cansados de tudo não cansam de te procurar. Meus olhos procuram teus olhos no espelho das águas do mar.

Bonitos os versos, ela pensou. Não era romântica, mas andava derramando um tal de um amor por todos os cantos. Sentou sozinha do lado de fora do bar, naquelas mesas que ficam na calçada. Não a incomodava esse desenho de solidão. Do outro lado da rua, o mar. Ah! Cidade Maravilhosa... Ela queria que seu único amor fosse assim, como você. Ao redor, por todas as mesas, muitos casais. Ela não ligava de ser a única sozinha. Acendeu um cigarro, bebia qualquer coisa que esquentasse suas batidas. Deixou de entregar seus olhos. Por um descuido, ele lhe sorriu, e a cumprimentou com um levantar de copo. Ela retribuiu o gesto. Alguns minutos depois, chuva. As águas de março.

Sem querer entrar e se embolar com aqueles outros corpos no ambiente abafado, Bruna foi caminhar pela orla. Ah, sim. Bruna era o nome dela. Ele, Luiz. Assim que percebeu a ausência da moça de cabelos castanhos e sorriso desconcertante, a música parou. Luiz deixou o violão, foi procurá-la. Se olharam a três passos de distância. Ele a tomou pela mão. E muito embora nenhum dos dois ainda soubesse, alguma semente se plantou ali. E já estava sendo regada. Caminharam lado a lado, em silêncio. De repente, um sussurar de palavras bonitas. Era Tom, dessa vez em versos de Fotografia: Eu, você, nós dois. Sozinhos neste bar à meia-luz. E uma grande lua saiu do mar...

A chuva foi cessando seus contos. Luiz e Bruna sentaram num banco. Ambos estavam radiantes. Bruna, contida. Ela não recebera nenhuma ligação da bolsa. Será que isso era efeito do investimento em ações? Resolveu tirar esse pensamento tolo na cabeça. Tiveram o primeiro diálogo. Ela era estudante de Teatro. Conversaram sobre política, Glauber Rocha, censura. Ele contou dos seus projetos. Ela encenava suas palavras.

- Sabe essa chuva que te fez caminhar pra cá? – dizia Luiz.
- O que tem?
- Foi tudo arquitetado por mim.
- Teus olhares me contaram desse poder. Distraída, cai na fantasia.
- Ah, eles têm mania de me entregar.
- Luiz, você investiria na bolsa?
- Linda, vou te presentear com essa lua. E sugiro falarmos sobre bossa.

Ela sorria.

- Tom ou Vinicius? – ele perguntou.
- Vinicius.
- Tom.
- Tá provado. Você é meu par. As melhores músicas foram feitas quandos os dois viraram um.
- Chega de Saudade. Eu acho que quase concordo com você.

Sorriram. Voltaram pro bar. Sentaram juntos. Alguém resolveu cantar Fotografia, e os trechos finais encerraram com a melhor chave, enquanto se ouvia o seguinte: Parece que este bar já vai fechar. E há sempre uma canção para contar aquela velha história de um desejo que todas as canções têm pra contar. E veio aquele beijo. Aquele beijo.Aquele beijo. Essa noite era Tom.

Ela voltou pra casa. Ele a acompanhou até a esquina. Falavam de Nara Leão. Mas ele já tinha uma nova musa para a sua bossa. Ela? Não sabia se isso era efeito da bolsa. E cá entre nós, quem se importava?

Ah, essa bolsa de amores! Tão lindos valores. Nunca queda de ações. Mercado sempre em alta. É, ninguém se arrisca a entender esse mercado de corações.

(Inspirado na Bolsa de Amores, de Chico Buarque/ por Jaya)

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Pedaços de mim



(Martha Medeiros)
Eu sou feita de:Sonhos interrompidos
Detalhes despercebidos
Amores mal resolvidos
Sou feita de:Choros sem ter razão
Pessoas no coraçãoAtos por impulsão
Sinto falta de:Lugares que não conheci
Experiências que não vivi
Momentos que já esqueci
Eu sou:Amor e carinho constante
Distraída até o bastanteNão paro por instante
Já:Tive noites mal dormidas
Perdi pessoas muito queridas
Cumpri coisas não prometidas
Muitas vezes eu:Desisti sem mesmo tentar
Pensei em fugir, para não enfrentar
Sorri para não chorar
Eu sinto:Pelas coisas que não mudei
Amizades que não cultiveiAqueles que eu julguei
Coisas que eu falei
Tenho saudade:De pessoas que fui conhecendo
Lembranças que fui esquecendoAmigos que acabei perdendo
Mas continuo... vivendo e aprendendo!

O poder do beijo escondido!


Gancho: Silêncio, todos, para a despedida da Wendy.

Wendy: Peter. Desculpa mas tenho que crescer. Mas... isto é teu.

(Gancho olha)

Wendy: É só um dedal.

Gancho: Típico de uma garotinha. Pois muito bem, minha beldade. Dá ao Peter Pan o teu precioso dedal.

Wendy: Isto pertence-te... E vai sempre pertencer-te.

(Wendy beija Peter)

Meninos perdidos: Aquilo não era um dedal. Aquilo foi o beijo escondido dela. Segurem-se, rapazes, isto é uma coisa poderosa.

Gancho: Pan, estás rosado!

(Peter derrota gancho)

Wendy: Que esperteza a sua!!!

;)
(Trecho do filme Peter Pan)

Acredita em anjo
Pois é, sou o seu
Soube que anda triste
Que sente falta de alguém
Que não quer amar ninguém
Por isso estou aqui
Vim cuidar de você
Te proteger, te fazer sorrir
Te entender, te ouvir
E quando tiver cansada
Cantar pra você dormir
Te colocar sobre as minhas asas
Te apresentar as estrelas do meu céu
Passar em Saturno e roubar o seu mais lindo anel
Vou secar qualquer lágrima
Que ousar cair
Vou desviar todo mal do seu pensamento
Vou estar contigo a todo momento
Sem que você me veja
Vou fazer tudo que você deseja
Mas, de repente você me beija
O coração dispara
E a consciência sente dor
E eu descubro que além de anjo
Eu posso ser seu amor.

(Anjo)

O Jardim


"Depois de uma longa espera consegui, finalmente, plantar o meu jardim. Tive de esperar muito tempo porque jardins precisam de terra para existir. Mas a terra eu não tinha. De meu, eu só tinha o sonho. Sei que é nos sonhos que os jardins existem, antes de existirem do lado de fora. Um jardim é um sonho que virou realidade, revelação de nossa verdade interior escondida, a alma nua se oferecendo ao deleite dos outros, sem vergonha alguma... Mas os sonhos, sendo coisas belas, são coisas fracas. Sozinhos, eles nada podem fazer: pássaros sem asas... São como as canções, que nada são até que alguém as cante; como as sementes, dentro dos pacotinhos, à espera de alguém que as liberte e as plante na terra. Os sonhos viviam dentro de mim. Eram posse minha. Mas a terra não me pertencia (...)"

Rubem Alves

quarta-feira, 18 de junho de 2008


Aprendi com a primavera a deixar-me cortar
e a voltar sempre inteira..."

Cecília Meireles

Eu não sei na verdade quem eu sou


Eu não sei na verdade quem eu sou,
Já tentei calcular o meu valor,
Mas sempre encontro sorriso e o meu paraíso é onde estou...
Por que a gente é desse jeito
criando conceito pra tudo que restou?
Meninas são bruxas e fadas,
Palhaço é um homem todo pintado de piadas!
Céu azul é o telhado do mundo inteiro,
Sonho é uma coisa que fica dentro do meu travesseiro!
(...)
Perguntar de onde veio a vida,
por onde entrei deve haver uma saída,
e tudo fica sustentado pela fé!
Na verdade ninguém sabe o que é!
Velhinhos são crianças nascidas faz tempo!
Com água e farinha eu colo figurinha e foto em documento!
Escola é onde a gente aprende palavrão...
Tambor no meu peito faz o batuque do meu coração!
(...)
Percebi que a cada minuto
Tem um olho chorando de alegria e outro chorando de luto
Tem louco pulando o muro, tem corpo pegando doença
Tem gente trepando no escuro, tem gente sentido ausência!
Eu não sei na verdade quem eu sou,
Já tentei calcular o meu valor,
Mas sempre encontro sorriso e o meu paraíso é onde estou...
Eu não sei na verdade quem eu sou.

(O Teatro Mágico)

sábado, 14 de junho de 2008


Sempre gostei de usar lápis .. Sempre gostei de poder escrever sem ter que riscar. É fácil passar borracha. Meu coração é escrito à lápis. Apago nomes, escrevo outros, apago e reescrevo. Quantas vezes eu quiser. Sempre achei que meu coração não falava comigo, que não me obedecia, que não me queria. Quanta bobagem. Na verdade eu escrevo sem perceber, e apago sem querer. O coração é meu e de mais ninguém. Sofrer não é desculpa de não controlar .. é desculpa de não saber que pode apagar, porque quando a gente quer .. a gente apaga.

Tu me amas? – ele abriu a boca para falar, ao que ela o impediu. – Sei que responderás que “sim”, e eu acreditarei nas tuas palavras; entretanto, se juras, poderás parecer falso. Ó gentil Romeu! Se tu amas, proclama-o com sinceridade; ou se pensas que sou conquistável fácil demais, serei severa e esquiva, e direi para que tu me faças a corte; mas, assim não sendo, nem pelo mundo todo.

-Senhora... – ele conseguiu pular para a balaustrada da varanda e segurou-se nela de forma firme. – eu juro por esta lua que coroa de prata a copa destas árvores infrutíferas...

-Não, não jures pela lua, a inconstante lua que muda todos os meses em sua órbita circular, a fim de que teu amor não se apresente igualmente variável para mim.

-Por que devo jurar?

-Não jures de todo. – ela silenciou por alguns instantes como se ponderasse e depois continuou. – Ou, se quiseres, jura pela tua graciosa pessoa que é o deus de minha idolatria e acreditar-te-ei!

-Se o profundo amor de meu peito...

-Bem, não jures. Embora em ti esteja minha alegria, nenhuma alegria me causa o juramento desta noite... – ela passou a mão pela face dele e sorriu. – Doce coração, boa noite! E que este botão da noite seja convertido em bela flor quando novamente voltarmos a ver-nos. Boa noite! Boa noite! Que tão doce e calmo repouso alcance teu coração, como o que se alenta dentro do meu peito. – ela afastou-se dele calmamente e se dirigiu a entrada da varanda.

-Deixa-me assim tão insatisfeito?

Lily parou e voltou-se para ele calmamente.

-Que satisfação podes ter esta noite? – James se controlou para não curvar os lábios num malicioso sorriso ao que Lily, notando isso, fez um esforço para não revirar os olhos, enquanto sentia a face ruborizar.

-A troca do teu com o meu fiel juramento de amor. – Lily sorriu.


"Eu espalhava os lápis de cor pelo chão, arco-íris no céu escuro. Tantas vezes eu te disse que precisava partir e você não entendeu. eu desenhava flores, violetas, na janela da sacada e havia uma rede, uma rede cor de areia. Os seus silêncios não me feriam mais. Nossas ausências já não me doíam. Tantas vezes eu te disse que não havia o que dizer e você não entendeu. Sempre ficava na dúvida do tom de verde com que pintaria os seus olhos. Mas lembrei que só desenhava quando estávamos vazios, e tristes seus olhos eram castanhos. Eu só tinha um lápis marrom, e era ruim não ser exato. Tantas vezes eu te disse que era ruim não ser exato e você não entendeu. Da sacada, víamos um céu azul ralo, e por isso eu passava o lápis devagar na folha, bem devagar. No dia em que eu arrumei as malas e fui embora, a colcha sobre a cama era da cor do nosso céu, e eu via sobre ele minhas roupas desdobradas, tão seu cheiro, tão seu toque, e tudo flutuava. Tantas vezes eu te disse que era preciso pôr os pés no chão e você não entendeu. Eu queria fazer um desenho bem bonito, em que você me abraçasse daquele jeito meio de lado, pra que nós dois víssemos os tons róseos e alaranjados do sol se pondo, mas eu perdi alguns lápis, eu perdi algumas palavras, a gente perdeu tanto tempo, borracha, sacada, branco, violeta. Tantas vezes eu te disse que era preciso cuidado e você não entendeu."
Mariana Chagas


sexta-feira, 13 de junho de 2008


Quero apenas cinco coisas...
Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o outono
A terceira é o grave inverno
Em quarto lugar o verão
A quinta coisa são teus olhos.
Não quero ser... sem que olhes
Abro mão da primavera para que continues me olhando.

( Pablo Neruda )


“Não Importa onde você está, nem o que você esteja fazendo neste momento.
O que importa é que você saiba que cada instante da minha vida pensei em ti,
que ainda sem conhecer-te,cada passo em meu caminho foi para chegar em ti,
e cada manhã abro os olhos com a esperança de encontrar-te.
Cedo ou tarde você chegará,e cada noite peço à Lua, que te guie pela vida,para que você chegue em breve para mim.
Não importa que você viveu antes de mim.O que importa é que,ainda sem nos conhecermos,o amor já existe em mim, que minhas lágrimas por fim chegarão no seu objetivo, porque só com saber que existes ,já me faz viver.
E cada lágrima e cada golpe por fim farão sentido, porque voltaria a percorrer o mesmo caminho, se fora para chegar em ti.”

Alucinação


Eu não estou interessado
Em nenhuma teoria
Em nenhuma fantasia
Nem no algo mais
Nem em tinta pro meu rosto
Ou oba oba, ou melodia
Para acompanhar bocejos
Sonhos matinais...
Eu não estou interessado
Em nenhuma teoria
Nem nessas coisas do oriente
Romances astrais
A minha alucinação
É suportar o dia-a-dia
E meu delírio
É a experiência
Com coisas reais...
(...)
E defendendo o seu amor
E nossa vida
Cumprindo o seu duro dever
E defendendo o seu amor
E nossa vida...
Mas eu não estou interessado
Em nenhuma teoria
Em nenhuma fantasia
Nem no algo mais
Longe o profeta do terror
Que a laranja mecânica anuncia
Amar e mudar as coisas
Me interessa mais

Traquinice



Tem dias que ele fica quieto.
Mas dependendo da companhia...
Fica é inquieto.
As vezes ele não faz sentido.
Engana a todos e também a mim.
Quando acho que foi dormir,
abre as portas com força.
Metido, um menino...
Tem dias que quer café,
em outros cappuccino..
Prega peças e sai correndo.
Desarruma minhas gavetas.
Rasga minhas lembranças.
E não se educa com o tempo.

Meu coração é atrevido...
Não escuta meus conselhos.
Completamente independente.
Sem medida, avança!
Oh menino destemido.
(Carolina de Castro)

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Antes doida que doída...


Eu transito pela vida, antes doida que doída:
tão sem dono, tão sem rumo, tão sem memória.
Entro em becos, bares, corações.
Saio intacta, sem impacto, saio rápido.
Quem desenha meus caminhos são meus passos.
Quem desenha meus amores são as minhas conveniências.
Eu transito pelas ruas, toda em cores;
toda força, toda vulva, toda contradições, toda em carne viva.
Mas escrevo meus amores: antes doida que doída.

Marla de Queiroz

Outra cena perdida


Apartamento ainda com pouca mobília. Noite quente do verão. Ele e ela deitados no chão da sala, exaustos e suados.

- Qual o seu maior desejo? - ela perguntou.
- Te amar sem limites.

Pausa.

- E o seu? - ele devolveu a pergunta, com um sorriso quase indecente.
- Que você consiga realizar o seu.