sábado, 14 de junho de 2008


"Eu espalhava os lápis de cor pelo chão, arco-íris no céu escuro. Tantas vezes eu te disse que precisava partir e você não entendeu. eu desenhava flores, violetas, na janela da sacada e havia uma rede, uma rede cor de areia. Os seus silêncios não me feriam mais. Nossas ausências já não me doíam. Tantas vezes eu te disse que não havia o que dizer e você não entendeu. Sempre ficava na dúvida do tom de verde com que pintaria os seus olhos. Mas lembrei que só desenhava quando estávamos vazios, e tristes seus olhos eram castanhos. Eu só tinha um lápis marrom, e era ruim não ser exato. Tantas vezes eu te disse que era ruim não ser exato e você não entendeu. Da sacada, víamos um céu azul ralo, e por isso eu passava o lápis devagar na folha, bem devagar. No dia em que eu arrumei as malas e fui embora, a colcha sobre a cama era da cor do nosso céu, e eu via sobre ele minhas roupas desdobradas, tão seu cheiro, tão seu toque, e tudo flutuava. Tantas vezes eu te disse que era preciso pôr os pés no chão e você não entendeu. Eu queria fazer um desenho bem bonito, em que você me abraçasse daquele jeito meio de lado, pra que nós dois víssemos os tons róseos e alaranjados do sol se pondo, mas eu perdi alguns lápis, eu perdi algumas palavras, a gente perdeu tanto tempo, borracha, sacada, branco, violeta. Tantas vezes eu te disse que era preciso cuidado e você não entendeu."
Mariana Chagas


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