quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Simples desejo...


Que tal abrir a porta do dia,dia
Entrar sem pedir licença
Sem parar pra pensar,
Pensar em nada…
Legal ficar sorrindo à toa,toa
Sorrir pra qualquer pessoa
Andar sem rumo na rua
Pra viver e pra ver
Não é preciso muito
Atenção, a lição
Está em cada gesto
Tá no mar, tá no ar
No brilho dos seus olhos
Eu não quero tudo de uma vez
Eu só tenho um simples desejo
Hoje eu só quero que o dia termine bem
Hoje eu só quero que o dia termine muito bem...
(Daniel Carlomagno e Jair Oliveira)

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Ele fala por mim


Não quero alguém que morra de amor por mim…
Só preciso de alguém que viva por mim, que queira estar junto de mim, me abraçando.
Não exijo que esse alguém me ame como eu o amo, quero apenas que me ame, não me importando com que intensidade.
Não tenho a pretensão de que todas as pessoas que gosto, gostem de mim…
Nem que eu faça a falta que elas me fazem, o importante pra mim é saber que eu, em algum momento, fui insubstituível…
E que esse momento será inesquecível...
Só quero que meu sentimento seja valorizado.
Quero sempre poder ter um sorriso estampando em meu rosto, mesmo quando a situação não for muito alegre…
E que esse meu sorriso consiga transmitir paz para os que estiverem ao meu redor.
Quero poder fechar meus olhos e imaginar alguém…e poder ter a absoluta certeza de que esse alguém também pensa em mim quando fecha os olhos, que faço falta quando não estou por perto.
Queria ter a certeza de que apesar de minhas renúncias e loucuras, alguém me valoriza pelo que sou, não pelo que tenho…
Que me veja como um ser humano completo, que abusa demais dos bons sentimentos que a vida lhe proporciona, que dê valor ao que realmente importa, que é meu sentimento… e não brinque com ele.
E que esse alguém me peça para que eu nunca mude, para que eu nunca cresça, para que eu seja sempre eu mesmo.
Não quero brigar com o mundo, mas se um dia isso acontecer, quero ter forças suficientes para mostrar a ele que o amor existe…
Que ele é superior ao ódio e ao rancor, e que não existe vitória sem humildade e paz.
Quero poder acreditar que mesmo se hoje eu fracassar, amanhã será outro dia, e se eu não desistir dos meus sonhos e propósitos, talvez obterei êxito e serei plenamente feliz.
Que eu nunca deixe minha esperança ser abalada por palavras pessimistas…
Que a esperança nunca me pareça um “não” que a gente teima em maquiá-lo de verde e entendê-lo como “sim”.
Quero poder ter a liberdade de dizer o que sinto a uma pessoa, de poder dizer a alguém o quanto ele é especial e importante pra mim, sem ter de me preocupar com terceiros…
Sem correr o risco de ferir uma ou mais pessoas com esse sentimento.
Quero, um dia, poder dizer às pessoas que nada foi em vão…
Que o amor existe, que vale a pena se doar às amizades e às pessoas, que a vida é bela sim, e que eu sempre dei o melhor de mim…
E que valeu a pena.

Mário Quintana

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

UM PEQUENO IMPREVISTO


Eu quis quere o que o vento não leva
Prá que o vento só levasse o que eu não quero
Eu quis amar o que o tempo não muda
Prá que quem eu amo não mudasse nunca
Eu quis prever o futuro, consertar o passado
Calculando os riscos
Bem devagar, ponderado
Perfeitamente equilibrado
Até que num dia qualquer
Eu vi que alguma coisa mudara
Trocaram os nomes das ruas
E as pessoas tinham outras caras
No céu havia nove luas
E nunca mais encontrei minha casa

(Thedy Correia - Herbert Vianna)

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Seu nome..


Quando essa boca disser o seu nome, venha voando
Mesmo que a boca só diga seu nome de vez em quando

Posso enxergar no seu rosto um dia tão claro e luminoso
Quero provar desse gosto ainda tão raro e misterioso do amor...

Quero que você me dê o que tiver de bom pra dar
Ficar junto de você é como ouvir o som do mar
Se você não vem me amar é maré cheia, amor
Ter você é ver o sol deitado na areia

Quando quiser entrar e encontrar o trinco trancado
Saiba que meu coração é um barraco de zinco todo cuidado

Não traga a tempestade depois que o sol se pôr
Nem venha com piedade porque piedade não é amor

(Luiza Possi)

Sonho Real


A primeira vista a paixão não tem defesa
Tem de ser um grande artista pra querer se segurar
Faz tremer a perna, faz a bela virar fera
Quando alguém que a gente espera quer se chegar

Só de pensar já me faz mais feliz
Nem bem o amor começa eu já quero bis

Chega e instala a beleza no mesmo momento. . .

Ilusão tão boa quanto o astral de uma pessoa chega junto, roça a pele
E já quer se enroscar
Lê seu pensamento, paralisa seu momento ao se encostar

Felicidade pode estar pelo sim
Às vezes do teu lado tem alguém afim

Chega e instala a beleza no mesmo momento. . .

Vem andar comigo numa beira de estrada
Desse lado ensolarado que eu achei pra caminhar
Vem meu anjo torto abusar do meu conforto
Ser meu bem em cada porto que eu ancorar

Felicidade pode estar pelo sim
Às vezes do teu lado tem alguém afim

Chega e instala a beleza
Momento de sonho real...

(Lô Borges e Ronaldo Bastos)

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Benditas


Benditas coisas que eu não sei
Os lugares onde não fui
Os gostos que não provei
Meus verdes ainda não maduros
Os espaços que ainda procuro
Os amores que eu nunca encontrei
Benditas coisas que não sejam benditas

A vida é curta
Mas enquanto dura
Posso durante um minuto ou mais
Te beijar pra sempre o amor não mente, não
mente jamais
E desconhece do relógio o velho futuro
O tempo escorre num piscar de olhos
E dura muito além dos nossos sonhos mais puros
Bom é não saber o quanto a vida dura
Ou se estarei aqui na primavera futura
Posso brincar de eternidade agora
Sem culpa nenhuma

(Zélia Duncan)

terça-feira, 29 de julho de 2008

Temporada das flores


Que saudade agora me aguardem,
Chegaram as tardes de sol a pino,
Pelas ruas, flores e amigos,
Me encontram vestindo meu melhor sorriso,
Eu passei um tempo andando no escuro,
Procurando não achar as respostas,
Eu era a causa e a saída de tudo,
E eu cavei como um túnel meu caminho de volta.

Me espera amor que estou chegando,
Depois do inverno a vida em cores,
Me espera amor nossa temporada das flores.

Eu te trago um milhão de presentes,
Que eu achava que já tinha perdido,
Mas estavam na mesma gaveta,
Que o calor das pessoas e o amor pela vida...

Me espera estou chegando com fome,
Preparando o campo e a alma pra as flores,
E quando ouvir alguém falar no meu nome,
Eu te juro que pode acreditar nos rumores.

(Leoni)

terça-feira, 22 de julho de 2008


As cores da noite
recamadas de silêncio
preparam o dia.

Borboleta azul
raspa este céu de mansinho
insegura e frágil.

Havia o escuro
mas eu não sabia onde;
teu rosto era sol.



Eolo Yberê Libera

Pseudo Blues


Dentro de cada um
Tem mais mistérios do que pensa o outro
Uma louca paixão avassala a alma o mais que pode
O certo é incerto, o incerto é uma estrada reta
De vez em quando acerto, depois tropeço no meio da linha

Tem essa mágica
O dia nasce todo dia
Resta uma dúvida
O sol só vem de vez em quando
O certo é incerto, o incerto é uma estrada reta
De vez em quando acerto
Depois tropeço no meio da linha
(Nico Rezende/Jorge Salomão)

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Nem Bem Acordo


(Zeca Baleiro)

Nem bem acordo
Já espio teu retrato
Faço um trato com o espelho
Hoje eu não quero sentir dor
Hora do almoço
Falo teu nome
Santo nome em vão
O que consome
Meu corpo moço
Fome ou solidão

Não quero nada
Essa estrada eu já sei aonde vai dar
Vai dar em nada,
Não quero ir, nem voltar

Cinco da tarde
Tudo arde
Coração e céu
Fico com ar de
Quem espera
Um aceno um sinal
Já noite alta
Não sinto sono
Não te esqueço mais
Viro do avesso
Adormeço
Cansada de mim sem paz

Não quero nada
Essa estrada eu já sei aonde vai dar
Vai dar em nada,
Não quero ir, nem voltar

Hoje eu não quero dor
Hoje eu não quero flor
Não quero nada
Que rime com o amor

quinta-feira, 17 de julho de 2008


Bambayuque


Enquanto você na arquibancada eu na geral

Enquanto eu além de tudo você afinal

Enquanto eu rondó você madrigal

Enquanto eu paro e penso você avança o sinal

Enquanto você carta marcada eu canastra real

Enquanto eu lugar-comum você especial

Enquanto eu na cozinha você no quintal



Você dois pra lá

E eu dois pra cá

É a dança da nossa paixão



Enquanto você kamikaze eu general

Enquanto eu Paquetá você Cabo Canaveral

Enquanto eu média luz você carnaval

Enquanto você no Olimpo ai de mim mortal

Enquanto você brisa eu vendaval

Enquanto você Roberto eu Hermeto Paschoal



Enquanto você monumento eu pedra de sal

Enquanto você na folia eu no funeral

Enquanto eu matriz você filial

Enquanto você Branca de Neve eu Lobo Mau

Enquanto eu papai-mamãe você sexo oral

Enquanto eu na canção você no parque industrial

(Zeca Baleiro)

“Recomeça… se puderes, sem angústia e sem pressa e os passos que deres, nesse caminho duro do futuro, dá-os em liberdade, enquanto não alcances não descanses, de nenhum fruto queiras só metade.”
(Miguel Torga)

quarta-feira, 16 de julho de 2008


"(...)Eu quis chamar o homem, para lhe dar um sorriso,mas ele ia já longe, sem se voltar nunca,como quem não tem frente, como quem só tem costas(...)"

Guimarães Rosa (Magma- Editora Nova Fronteira)

(...)

eu disse a mim mesma que o mundo no qual eu acreditava haveria de existir em algum lugar do planeta! Haveria de existir![...]o mundo seria sim bonito e doce, o mundo seria cheio de amor e eu nunca mais ficaria doente. E, nesse mundo, ninguém precisa trocar amor por coisa alguma porque ele brota sozinho entre os dedos da mão e se alimenta do respirar, do contemplar o céu, do fechar os olhos na ventania e abrir os braços antes da chuva. Nesse mundo, as pessoas nunca se abandonam. Elas nunca vão embora porque a gente não foi um bom menino.

(...)
Rita Apoena

Eu apenas queria que você soubesse


Eu apenas queria que você soubesse
Que aquela alegria ainda está comigo
E que a minha ternura não ficou na estrada
Não ficou no tempo presa na poeira

Eu apenas queria que você soubesse
Que esta menina hoje é uma mulher
E que esta mulher é uma menina
Que colheu seu fruto flor do seu carinho

Eu apenas queria dizer a todo mundo que me gosta
Que hoje eu me gosto muito mais
Porque me entendo muito mais também

E que a atitude de recomeçar é todo dia toda hora
É se respeitar na sua força e fé
E se olhar bem fundo até o dedão do pé

Eu apenas queira que você soubesse
Que essa criança brinca nesta roda
E não teme o corte de novas feridas
Pois tem a saúde que aprendeu com a vida
(Gonzaguinha)

terça-feira, 15 de julho de 2008


Todos os dragões da nossa vida são, talvez, princesas que esperam ver-nos, um dia belos e corajosos. Todas as coisas aterradoras não são mais, talvez, do que coisas indefesas que esperam que as socorramos.
(Rilke)

segunda-feira, 14 de julho de 2008

A quem me faz feliz...


Quando me perguntam
Se eu estou amando
Logo vem o coração e diz:
“Amo as estrelas, amo certos olhos
Amo a quem me faz feliz”

Se algum amigo
Me acha distraído
Logo vem o meu sorriso e diz:
“Amo as estrelas, amo certos olhos
Amo a quem me faz feliz”

Existe alguém
E existirá
Que me faz queimar ou padecer de frio

E esse alguém
Sabe que chegou
E calou a dor de meu peito vazio
Triste é ser só

Sigo meu caminho
Mas não vou sozinho
Trago esse meu coração que diz:
“Amo as estrelas, amo certos olhos
Amo a quem me faz feliz”


Ivan Lins
Composição: Ivan Lins / Abel Silva

quinta-feira, 10 de julho de 2008

A Dança


Não te amo como se fosses a rosa de sal, topázio

Ou flechas de cravos que propagam o fogo:

Te amo como se amam certas coisas obscuras,

Secretamente, entre a sombra e a alma.

Te amo como a planta que não floresce e leva

Dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,

E graças a teu amor vive escuro em meu corpo

O apertado aroma que ascendeu da terra.

Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,

Te amo assim diretamente sem problemas nem orgulho:

Assim te amo porque não sei amar de outra maneira,

Senão assim deste modo que não sou nem és,

Tão perto que tua mão sobre o meu peito é minha,

Tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.

Antes de amar-te, amor, nada era meu:

Vacilei pelas ruas e as coisas:

Nada contava nem tinha nome:

O mundo era do ar que esperava.

E conheci salões cinzentos,

Túneis habitados pela lua,

Hangares cruéis que se dependiam,

Perguntas que insistiam na areia.

Tudo estava vazio, morto e mudo,

Caído, abandonado, decaído,

Tudo era inalianavelmente alheio,

Tudo era dos outros e de ninguém,

Até que tua beleza e tua pobreza

De dádivas encheram o outono.

(Pablo Neruda)

segunda-feira, 7 de julho de 2008


[...] sabe que o meu gostar por você chegou a ser amor, pois se eu me comovia vendo você, pois se eu acordava no meio da noite só pra ver você dormindo, meu Deus...como você me doía! De vez em quando eu vou ficar esperando você numa tarde cinzenta de inverno, bem no meio duma praça, então os meus braços não vão ser suficientes para abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta, mas tanta coisa que eu vou ficar calada um tempo enorme...só olhando você, sem dizer nada só olhando e pensando: Meu Deus, mas como você me dói de vez em quando!
( Caio Fernando Abreu )

Recuso os sonhos que te ignoram...


Recuso os sonhos que te ignoram e os desejos que não possas despertar. Não quero fazer um gesto que não te louve, nem cuidar uma flor que não te enfeite; não quero saudar as aves que ignorem o caminho da tua janela, nem beber em ribeiros que não tenham acolhido o teu reflexo. Não quero visitar países que os teus sonhos não tenham percorrido como taumaturgos vindos de fora, nem habitar cabanas, que não tenham abrigado o teu repouso. Nada quero saber de quem te precedeu em meus dias, nem dos seres que aí permanecem.

( Rainer Maria Rilke )

Amor é pra quem tem coragem.

Eu caminhava pela rua morna e opaca da minha vida. Não ia muito além de poucos passos contados ao redor dali, não me dava sequer ao luxo de contemplar alguns sonhos. Me trancava no meu castelo de certezas blindadas com sua segurança triste, me isolava atrás das cortinas desconhecendo a loucura que se esconde onde mora o sol. E assim, dobrava esquinas iguais e assistia filmes repetidos, cruzava avenidas monótonas em busca de nada, olhava na poça meus olhos desertos donos de um vazio sem fim. E assim permitia que as horas escorressem enquanto andava em círculos sem nada conhecer, deixando a vida passar à minha volta sem sentir e sem saber.

Até que ele apareceu na minha frente, o desconhecido tão decantado em linhas de poetas, histórias e lamentos em cada lugar do mundo, ao longo de tantos séculos... Surgiu trazendo borboletas ao meu redor, dentro de mim, e suas asas nas minhas costas. E eu abandonei o medo pesado que me puxava pra baixo, só pra ouvir sua voz de cântico celeste, suas frases vermelhas de tentação maluca.

Lembro como se fosse hoje: O Amor me olhou nos olhos - mistura de fogo com céu - e me puxou pela mão até as alturas infinitas.

O Amor me fez amiga das estrelas chamando-as pelo nome, colocando as luzes de todas elas no meu olhar. Me fez mãe de todas as flores exalando o perfume sagrado das fadas, e abraçar o sol espalhando seus raios por cada canto escuro de mim. Pôs a lua nas palmas das minhas mãos como um presente mágico e eterno, me convidou a recitar as mais incríveis profecias sagradas, me ensinou a tatuar poesia dentro do peito com versos encantados, e me fez desmaiar feliz num êxtase indizível de quem beija Deus.

O Amor rasgou num segundo minhas túnicas bordadas com cuidado, pintadas com carinho e inspiração, pra me despir de tudo e encarar o mundo assim - nua, exposta, indefesa. O Amor calou meus instintos introvertidos e me fez abrir-me inteira, corpo e alma, peito e boca. Me fez dar a cara a tapa, apostar todas as fichas, pagar pra ver. E eu paguei. Transparente diante de mil olhos, gritando segredos para mil ouvidos, caminhando sozinha entre mil lobos, eu fui.

O Amor era meu escudo, meu estandarte, meu patrimônio.

O Amor alterava sempre a previsão do tempo nas minhas praias ensolaradas, e de repente me fazia afogar em tempestades tristes e salgadas dentro de mim. O Amor me observava desfiar o meu rosário de lágrimas sob o travesseiro, e atravessar invernos gelados na Solidão dos meus porões internos mais empoeirados. Me trazia a visita esporádica e indesejada da Decepção, me convidava a conversas intermináveis com um Ciúme doente em especulações e investigações dolorosas e inúteis, onde no final eu era sempre autora do meu próprio crime.

O Amor transformava as madrugadas úmidas em masmorras negras, junto à Incerteza feia que marcava minha alma com seus flagelos. Me colocava frente a frente com o Orgulho, numa batalha cruel e sofrida contra mim mesma, e me prostrar chorando e abraçar os monstros que repudiei. O Amor me abandonava em abismos cheios de insetos adormecendo ao lado da Dor, e dançar um tango triste com a Angústia, que trazia seus discos velhos e arranhados pra me atormentar.

O Amor era minha renúncia, meu sacrifício, meu sacerdócio.

O Amor me fez nascer, morrer e ressuscitar em fração de segundos, tocar com os dedos as linhas extremas de cada emoção, flutuar e arder, gritar e cantar, abençoada e maldita, pecadora e santa, mortal e deusa. O amor me fez viver.

O Amor virou minha dádiva, meu idioma, meu santuário. Perpetuou todos os sorrisos, iluminou todas as estradas, desenhou cada emoção, justificou a minha vida.

Por isso eu não mais me revoltei contra seus inevitáveis espinhos - já havia aspirado a magia de suas pétalas, e mesmo que o sangue manchasse minha pele, já conhecia de perto a maciez de suas cores... Isso bastava.

Por isso quem maldiz o Amor jamais o conheceu. Quem nega sua existência nunca provou o gosto de um viver máximo, quem foge escondendo-se de sua presença jamais olhou sua face, quem pensa que o compreende e rotula sequer ouviu o som de seus passos...

Mas não adianta tentar te contar essas coisas, enquanto você não caminhar por onde caminhei, e viajar pelos destinos únicos que o Amor guardou naquele relicário dourado... Que tal sair também do teu castelo morto?

Pare de percorrer sozinho essa rua deserta e ridícula! Entregue-lhe sua mão, seu peito, seu ar, e depois volte aqui. Entre sem pedir licença, pouse à vontade, e me encare sinceramente pra dizer o quanto valeu a pena atrever-se a viver, pra me contar como foi bom ousar delirar, pra enfim concordar comigo: Amor é pra quem tem coragem (ainda bem que você teve).

Senta então ao meu lado, pra brindarmos nós três o gosto de um sábado qualquer com vinho tinto, e cantarmos leve no vento debaixo de uma lua muito mais sorridente...

(A menina Lunar)

sexta-feira, 4 de julho de 2008


"Enquanto arquitetavas maneiras de me manter presa a tua teia, eu lia e sugava o mundo como oxigênio.Teu conceito de sólido é líquido,escorrega pelas laterais feito óleo. Posso contar uma coisa? Durante os teus discursos metafóricos sobre uma realidade cheia de furos, as luzes da minha cabeça se apagavam,eu vestia a minha máscara e assim me permitia acreditar em cada palavra absurda proferida da tua boca linda. Mas a porta se fechava, as luzes se acendiam, você ia e eu ficava com as minhas crises incontroláveis de riso. Limite-se a sua pouca inteligência, não desafie a minha."

clara menina clara

O pássaro e a borboleta...


Tu me escreves assim:


Recado

O amor que eu por ti tenho é um afeto tão novo
Que não deveria se chamar amor.
De tão irreconhecível,
De tão desconhecido,
Que não deveria se chamar amor.
Poderia se chamar NUVEM
Pois muda de formato a cada instante;
Poderia se chamar TEMPO
Porque parece um filme a que nunca assisti antes;
Poderia se chamar LABIRINTO
Pois sinto que não conseguirei escapulir;
Poderia se chamar AURORA
Porque vejo um novo dia que está por vir;
Poderia se chamar ABISMO
Pois é certo que ele não tem fim;
Poderia se chamar HORIZONTE
Que parece linha reta mas sei que não é assim;
Poderia se chamar PRIMEIRO BEIJO
Porque não lembro mais do meu passado;
Poderia se chamar ÚLTIMO ADEUS
Que meu antigo futuro foi abandonado;
Poderia se chamar UNIVERSO
Porque sei que não o conhecerei por inteiro;
Poderia se chamar PALAVRA LOUCA
Que na verdade quer dizer aventureiro;
Poderia se chamar SILÊNCIO
Porque minha dor é calada e meu desejo é mudo;
E poderia simplesmente não se chamar
Para não significar nada e dar sentido a tudo...


...E hoje, com as tuas palavras nas minhas mãos e meus olhos postos na noite de então, "EU" respondo-te assim:


AMANHECIA

O dia amanhecia...
Ele , mas não eu !
Eu só amanheci
Quando te vi
Por aqui
Já o sol ia alto.

E então me aperaltei
Para te receber ...

Mas eu sabia de tu'alma meiga
Coração de manteiga
Suave e carinhosa
Linda por dentro e por fora
Inebriante como a rosa
E não aquele senhor
Emproado e fino.

E desaperaltei...
E falei
Ao teu jeito de menino .

Desse eterno adolescente
Como eu...
E o Céu
Ganhou mais cor
Porque falávamos de amor
De coisas simples e belas
De felicidade e janelas
Que abrimos na construção
Dum mundo sempre melhor.

Falávamos do coração
Da alma,
Do que se fez e do que se faz,
Do que ansiamos, a paz,
De ter um porto de abrigo .

Estivemos aqui os dois
Foste... saíste depois.
Mas foi lindo estar contigo!

(autor desconhecido)



"[...]e eu andava, e tudo que eu andava fazendo e sendo eu não queria que ele visse nem soubesse, mas depois de pensar isso me deu um desgosto porque fui percebendo, por dentro da chuva, que talvez eu não quisesse que ele soubesse que eu era eu, e eu era.[...]"

Caio F. - Além do Ponto

quarta-feira, 25 de junho de 2008


" Como daí chegaram ao amor, não o soube ele nunca. A verdade é que gostava de passar as horas ao lado dela."
Machado de Assis - A Cartomante

Por perto...


Num velho disco a vida se desfaz
Em poucos minutos
Pra onde aquele tempo te levou
Também vou
Pode ser numa canção
Pode ser no coração
Eu so quero ter você por perto
Se é pra tocar o ceu e me lembrar
Do canto de um anjo
Naquele empoeirado LP
Encontro você
Pode ser numa canção
Pode ser no coração
Eu so quero ter você por perto
Eu só quero ter você
Foi-se o tempo em que sozinho
Maltratei meu coração
Me contou um passarinho:
Tristeza é sem razão

(Pato Fu)

terça-feira, 24 de junho de 2008

Diálogo



"— E você, por que desvia o olhar?

(Porque eu tenho medo de altura. Tenho medo de cair para dentro de você. Há nos seus olhos castanhos certos desenhos que me lembram montanhas, cordilheiras vistas do alto, em miniatura. Então, eu desvio os meus olhos para amarra-los em qualquer pedra no chão e me salvar do amor. Mas, hoje, não encontraram pedra. Encontraram flor. E eu me agarrei às pétalas o mais que pude, sem sequer perceber que estava plantada num desses abismos, dentro dos seus olhos.)

— Ah. Porque eu sou tímida."

Rita Apoena

De Sally para Gillian


As vezes sinto que há um buraco dentro de mim,

um vazio que às vezes parece queimar.

Acho que, se pusesse meu coração no ouvido, ouviria o oceano.
E a lua hoje, tem um círculo ao redor. Sinal de confusão em breve.

Sonho em ser inteira. Em não ir dormir toda noite, desejando.
Mas, quando o vento está quente e os grilos cantam,
sonho com um amor que faça o tempo parar.

Só quero que alguém me ame. Quero ser vista...
Eu não sei. Talvez já tenha sido feliz.
Não quero acreditar nisso.

Mas não há ninguém, só aquela lua.

segunda-feira, 23 de junho de 2008


"Cola o teu desenho no meu

Pra ver se cola

Cola o meu retrato no teu

E me namora

Comigo nessa dança

Um sonho de criança

E o meu coração colado ao teu

Pra ver se cola."

(Pra ver se cola)

domingo, 22 de junho de 2008

Bossa de amores...



Ela decidiu um dia comprar um amor. Foi até a bolsa de amores, e investiu em ações. Ações de um moreno daqueles com papo bom. Daqueles que tocam violão enquanto decifram olhares. Daqueles morenos que ela construiu em meio aos seus livros e músicas. Um moreno que não ligasse ao ser notado com as mãos no queixo e os olhares distantes, enquanto sentado no café, numa tarde de quarta-feira. E seria assim porque estava amando, e o mundo precisava saber disso. Comprou as ações. Sentiu-se estúpida. Resolveu caminhar.

Anoiteceu. Era um daqueles bares. Auge da bossa nova. Antes, raridade era quem tivesse ouvido João Gilberto em Chega de Saudade e não tivesse voado com aquele jeito de cantar os acordes e falar a música. E o que era aquilo que ele tocava bonito assim? Ela ouvira pela primeira vez agora, naquela rodinha de violão. Era um moreno cantando.

Ele, pernambucano. Por essa época deixou a faculdade de Medicina de lado. Correu pra música. E acabou decidindo fazer faculdade de Arquitetura. Ela olhando de longe, nem imaginava que ele arquitetava música também. E quem se importava? Onde ela estava com a cabeça ao comprar ações na bolsa de amores?

Depois de muito se encontrarem em olhares de longe nessas noites boêmias, e de um estranho frio em meio ao calor do Rio, ele a viu chegar. Acompanhou-a de longe. Ela sentia o peso do olhar dele em si, e se fazia bonita. Nessa noite, só tocava Tom Jobim. As primeiras frases que ela o escutou musicar, foram exatamente os últimos versos de Tom em Das Rosas: Meus olhos cansados de tudo não cansam de te procurar. Meus olhos procuram teus olhos no espelho das águas do mar.

Bonitos os versos, ela pensou. Não era romântica, mas andava derramando um tal de um amor por todos os cantos. Sentou sozinha do lado de fora do bar, naquelas mesas que ficam na calçada. Não a incomodava esse desenho de solidão. Do outro lado da rua, o mar. Ah! Cidade Maravilhosa... Ela queria que seu único amor fosse assim, como você. Ao redor, por todas as mesas, muitos casais. Ela não ligava de ser a única sozinha. Acendeu um cigarro, bebia qualquer coisa que esquentasse suas batidas. Deixou de entregar seus olhos. Por um descuido, ele lhe sorriu, e a cumprimentou com um levantar de copo. Ela retribuiu o gesto. Alguns minutos depois, chuva. As águas de março.

Sem querer entrar e se embolar com aqueles outros corpos no ambiente abafado, Bruna foi caminhar pela orla. Ah, sim. Bruna era o nome dela. Ele, Luiz. Assim que percebeu a ausência da moça de cabelos castanhos e sorriso desconcertante, a música parou. Luiz deixou o violão, foi procurá-la. Se olharam a três passos de distância. Ele a tomou pela mão. E muito embora nenhum dos dois ainda soubesse, alguma semente se plantou ali. E já estava sendo regada. Caminharam lado a lado, em silêncio. De repente, um sussurar de palavras bonitas. Era Tom, dessa vez em versos de Fotografia: Eu, você, nós dois. Sozinhos neste bar à meia-luz. E uma grande lua saiu do mar...

A chuva foi cessando seus contos. Luiz e Bruna sentaram num banco. Ambos estavam radiantes. Bruna, contida. Ela não recebera nenhuma ligação da bolsa. Será que isso era efeito do investimento em ações? Resolveu tirar esse pensamento tolo na cabeça. Tiveram o primeiro diálogo. Ela era estudante de Teatro. Conversaram sobre política, Glauber Rocha, censura. Ele contou dos seus projetos. Ela encenava suas palavras.

- Sabe essa chuva que te fez caminhar pra cá? – dizia Luiz.
- O que tem?
- Foi tudo arquitetado por mim.
- Teus olhares me contaram desse poder. Distraída, cai na fantasia.
- Ah, eles têm mania de me entregar.
- Luiz, você investiria na bolsa?
- Linda, vou te presentear com essa lua. E sugiro falarmos sobre bossa.

Ela sorria.

- Tom ou Vinicius? – ele perguntou.
- Vinicius.
- Tom.
- Tá provado. Você é meu par. As melhores músicas foram feitas quandos os dois viraram um.
- Chega de Saudade. Eu acho que quase concordo com você.

Sorriram. Voltaram pro bar. Sentaram juntos. Alguém resolveu cantar Fotografia, e os trechos finais encerraram com a melhor chave, enquanto se ouvia o seguinte: Parece que este bar já vai fechar. E há sempre uma canção para contar aquela velha história de um desejo que todas as canções têm pra contar. E veio aquele beijo. Aquele beijo.Aquele beijo. Essa noite era Tom.

Ela voltou pra casa. Ele a acompanhou até a esquina. Falavam de Nara Leão. Mas ele já tinha uma nova musa para a sua bossa. Ela? Não sabia se isso era efeito da bolsa. E cá entre nós, quem se importava?

Ah, essa bolsa de amores! Tão lindos valores. Nunca queda de ações. Mercado sempre em alta. É, ninguém se arrisca a entender esse mercado de corações.

(Inspirado na Bolsa de Amores, de Chico Buarque/ por Jaya)

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Pedaços de mim



(Martha Medeiros)
Eu sou feita de:Sonhos interrompidos
Detalhes despercebidos
Amores mal resolvidos
Sou feita de:Choros sem ter razão
Pessoas no coraçãoAtos por impulsão
Sinto falta de:Lugares que não conheci
Experiências que não vivi
Momentos que já esqueci
Eu sou:Amor e carinho constante
Distraída até o bastanteNão paro por instante
Já:Tive noites mal dormidas
Perdi pessoas muito queridas
Cumpri coisas não prometidas
Muitas vezes eu:Desisti sem mesmo tentar
Pensei em fugir, para não enfrentar
Sorri para não chorar
Eu sinto:Pelas coisas que não mudei
Amizades que não cultiveiAqueles que eu julguei
Coisas que eu falei
Tenho saudade:De pessoas que fui conhecendo
Lembranças que fui esquecendoAmigos que acabei perdendo
Mas continuo... vivendo e aprendendo!

O poder do beijo escondido!


Gancho: Silêncio, todos, para a despedida da Wendy.

Wendy: Peter. Desculpa mas tenho que crescer. Mas... isto é teu.

(Gancho olha)

Wendy: É só um dedal.

Gancho: Típico de uma garotinha. Pois muito bem, minha beldade. Dá ao Peter Pan o teu precioso dedal.

Wendy: Isto pertence-te... E vai sempre pertencer-te.

(Wendy beija Peter)

Meninos perdidos: Aquilo não era um dedal. Aquilo foi o beijo escondido dela. Segurem-se, rapazes, isto é uma coisa poderosa.

Gancho: Pan, estás rosado!

(Peter derrota gancho)

Wendy: Que esperteza a sua!!!

;)
(Trecho do filme Peter Pan)

Acredita em anjo
Pois é, sou o seu
Soube que anda triste
Que sente falta de alguém
Que não quer amar ninguém
Por isso estou aqui
Vim cuidar de você
Te proteger, te fazer sorrir
Te entender, te ouvir
E quando tiver cansada
Cantar pra você dormir
Te colocar sobre as minhas asas
Te apresentar as estrelas do meu céu
Passar em Saturno e roubar o seu mais lindo anel
Vou secar qualquer lágrima
Que ousar cair
Vou desviar todo mal do seu pensamento
Vou estar contigo a todo momento
Sem que você me veja
Vou fazer tudo que você deseja
Mas, de repente você me beija
O coração dispara
E a consciência sente dor
E eu descubro que além de anjo
Eu posso ser seu amor.

(Anjo)

O Jardim


"Depois de uma longa espera consegui, finalmente, plantar o meu jardim. Tive de esperar muito tempo porque jardins precisam de terra para existir. Mas a terra eu não tinha. De meu, eu só tinha o sonho. Sei que é nos sonhos que os jardins existem, antes de existirem do lado de fora. Um jardim é um sonho que virou realidade, revelação de nossa verdade interior escondida, a alma nua se oferecendo ao deleite dos outros, sem vergonha alguma... Mas os sonhos, sendo coisas belas, são coisas fracas. Sozinhos, eles nada podem fazer: pássaros sem asas... São como as canções, que nada são até que alguém as cante; como as sementes, dentro dos pacotinhos, à espera de alguém que as liberte e as plante na terra. Os sonhos viviam dentro de mim. Eram posse minha. Mas a terra não me pertencia (...)"

Rubem Alves

quarta-feira, 18 de junho de 2008


Aprendi com a primavera a deixar-me cortar
e a voltar sempre inteira..."

Cecília Meireles

Eu não sei na verdade quem eu sou


Eu não sei na verdade quem eu sou,
Já tentei calcular o meu valor,
Mas sempre encontro sorriso e o meu paraíso é onde estou...
Por que a gente é desse jeito
criando conceito pra tudo que restou?
Meninas são bruxas e fadas,
Palhaço é um homem todo pintado de piadas!
Céu azul é o telhado do mundo inteiro,
Sonho é uma coisa que fica dentro do meu travesseiro!
(...)
Perguntar de onde veio a vida,
por onde entrei deve haver uma saída,
e tudo fica sustentado pela fé!
Na verdade ninguém sabe o que é!
Velhinhos são crianças nascidas faz tempo!
Com água e farinha eu colo figurinha e foto em documento!
Escola é onde a gente aprende palavrão...
Tambor no meu peito faz o batuque do meu coração!
(...)
Percebi que a cada minuto
Tem um olho chorando de alegria e outro chorando de luto
Tem louco pulando o muro, tem corpo pegando doença
Tem gente trepando no escuro, tem gente sentido ausência!
Eu não sei na verdade quem eu sou,
Já tentei calcular o meu valor,
Mas sempre encontro sorriso e o meu paraíso é onde estou...
Eu não sei na verdade quem eu sou.

(O Teatro Mágico)

sábado, 14 de junho de 2008


Sempre gostei de usar lápis .. Sempre gostei de poder escrever sem ter que riscar. É fácil passar borracha. Meu coração é escrito à lápis. Apago nomes, escrevo outros, apago e reescrevo. Quantas vezes eu quiser. Sempre achei que meu coração não falava comigo, que não me obedecia, que não me queria. Quanta bobagem. Na verdade eu escrevo sem perceber, e apago sem querer. O coração é meu e de mais ninguém. Sofrer não é desculpa de não controlar .. é desculpa de não saber que pode apagar, porque quando a gente quer .. a gente apaga.

Tu me amas? – ele abriu a boca para falar, ao que ela o impediu. – Sei que responderás que “sim”, e eu acreditarei nas tuas palavras; entretanto, se juras, poderás parecer falso. Ó gentil Romeu! Se tu amas, proclama-o com sinceridade; ou se pensas que sou conquistável fácil demais, serei severa e esquiva, e direi para que tu me faças a corte; mas, assim não sendo, nem pelo mundo todo.

-Senhora... – ele conseguiu pular para a balaustrada da varanda e segurou-se nela de forma firme. – eu juro por esta lua que coroa de prata a copa destas árvores infrutíferas...

-Não, não jures pela lua, a inconstante lua que muda todos os meses em sua órbita circular, a fim de que teu amor não se apresente igualmente variável para mim.

-Por que devo jurar?

-Não jures de todo. – ela silenciou por alguns instantes como se ponderasse e depois continuou. – Ou, se quiseres, jura pela tua graciosa pessoa que é o deus de minha idolatria e acreditar-te-ei!

-Se o profundo amor de meu peito...

-Bem, não jures. Embora em ti esteja minha alegria, nenhuma alegria me causa o juramento desta noite... – ela passou a mão pela face dele e sorriu. – Doce coração, boa noite! E que este botão da noite seja convertido em bela flor quando novamente voltarmos a ver-nos. Boa noite! Boa noite! Que tão doce e calmo repouso alcance teu coração, como o que se alenta dentro do meu peito. – ela afastou-se dele calmamente e se dirigiu a entrada da varanda.

-Deixa-me assim tão insatisfeito?

Lily parou e voltou-se para ele calmamente.

-Que satisfação podes ter esta noite? – James se controlou para não curvar os lábios num malicioso sorriso ao que Lily, notando isso, fez um esforço para não revirar os olhos, enquanto sentia a face ruborizar.

-A troca do teu com o meu fiel juramento de amor. – Lily sorriu.


"Eu espalhava os lápis de cor pelo chão, arco-íris no céu escuro. Tantas vezes eu te disse que precisava partir e você não entendeu. eu desenhava flores, violetas, na janela da sacada e havia uma rede, uma rede cor de areia. Os seus silêncios não me feriam mais. Nossas ausências já não me doíam. Tantas vezes eu te disse que não havia o que dizer e você não entendeu. Sempre ficava na dúvida do tom de verde com que pintaria os seus olhos. Mas lembrei que só desenhava quando estávamos vazios, e tristes seus olhos eram castanhos. Eu só tinha um lápis marrom, e era ruim não ser exato. Tantas vezes eu te disse que era ruim não ser exato e você não entendeu. Da sacada, víamos um céu azul ralo, e por isso eu passava o lápis devagar na folha, bem devagar. No dia em que eu arrumei as malas e fui embora, a colcha sobre a cama era da cor do nosso céu, e eu via sobre ele minhas roupas desdobradas, tão seu cheiro, tão seu toque, e tudo flutuava. Tantas vezes eu te disse que era preciso pôr os pés no chão e você não entendeu. Eu queria fazer um desenho bem bonito, em que você me abraçasse daquele jeito meio de lado, pra que nós dois víssemos os tons róseos e alaranjados do sol se pondo, mas eu perdi alguns lápis, eu perdi algumas palavras, a gente perdeu tanto tempo, borracha, sacada, branco, violeta. Tantas vezes eu te disse que era preciso cuidado e você não entendeu."
Mariana Chagas


sexta-feira, 13 de junho de 2008


Quero apenas cinco coisas...
Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o outono
A terceira é o grave inverno
Em quarto lugar o verão
A quinta coisa são teus olhos.
Não quero ser... sem que olhes
Abro mão da primavera para que continues me olhando.

( Pablo Neruda )


“Não Importa onde você está, nem o que você esteja fazendo neste momento.
O que importa é que você saiba que cada instante da minha vida pensei em ti,
que ainda sem conhecer-te,cada passo em meu caminho foi para chegar em ti,
e cada manhã abro os olhos com a esperança de encontrar-te.
Cedo ou tarde você chegará,e cada noite peço à Lua, que te guie pela vida,para que você chegue em breve para mim.
Não importa que você viveu antes de mim.O que importa é que,ainda sem nos conhecermos,o amor já existe em mim, que minhas lágrimas por fim chegarão no seu objetivo, porque só com saber que existes ,já me faz viver.
E cada lágrima e cada golpe por fim farão sentido, porque voltaria a percorrer o mesmo caminho, se fora para chegar em ti.”

Alucinação


Eu não estou interessado
Em nenhuma teoria
Em nenhuma fantasia
Nem no algo mais
Nem em tinta pro meu rosto
Ou oba oba, ou melodia
Para acompanhar bocejos
Sonhos matinais...
Eu não estou interessado
Em nenhuma teoria
Nem nessas coisas do oriente
Romances astrais
A minha alucinação
É suportar o dia-a-dia
E meu delírio
É a experiência
Com coisas reais...
(...)
E defendendo o seu amor
E nossa vida
Cumprindo o seu duro dever
E defendendo o seu amor
E nossa vida...
Mas eu não estou interessado
Em nenhuma teoria
Em nenhuma fantasia
Nem no algo mais
Longe o profeta do terror
Que a laranja mecânica anuncia
Amar e mudar as coisas
Me interessa mais

Traquinice



Tem dias que ele fica quieto.
Mas dependendo da companhia...
Fica é inquieto.
As vezes ele não faz sentido.
Engana a todos e também a mim.
Quando acho que foi dormir,
abre as portas com força.
Metido, um menino...
Tem dias que quer café,
em outros cappuccino..
Prega peças e sai correndo.
Desarruma minhas gavetas.
Rasga minhas lembranças.
E não se educa com o tempo.

Meu coração é atrevido...
Não escuta meus conselhos.
Completamente independente.
Sem medida, avança!
Oh menino destemido.
(Carolina de Castro)

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Antes doida que doída...


Eu transito pela vida, antes doida que doída:
tão sem dono, tão sem rumo, tão sem memória.
Entro em becos, bares, corações.
Saio intacta, sem impacto, saio rápido.
Quem desenha meus caminhos são meus passos.
Quem desenha meus amores são as minhas conveniências.
Eu transito pelas ruas, toda em cores;
toda força, toda vulva, toda contradições, toda em carne viva.
Mas escrevo meus amores: antes doida que doída.

Marla de Queiroz

Outra cena perdida


Apartamento ainda com pouca mobília. Noite quente do verão. Ele e ela deitados no chão da sala, exaustos e suados.

- Qual o seu maior desejo? - ela perguntou.
- Te amar sem limites.

Pausa.

- E o seu? - ele devolveu a pergunta, com um sorriso quase indecente.
- Que você consiga realizar o seu.


quarta-feira, 21 de maio de 2008

Infinito Particular...


Eis o melhor e o pior de mim

O meu termômetro, o meu quilate

Vem, cara, me retrate. Não é impossível

Eu não sou difícil de ler. Faça sua parte

Eu sou daqui, eu não sou de Marte

Vem, cara, me repara

Não vê, tá na cara, sou porta bandeira de mim

Só não se perca ao entrar

No meu infinito particular

Em alguns instantes

Sou pequenina e também gigante

Vem, cara, se declara

O mundo é portátil

Pra quem não tem nada a esconder

Olha minha cara

É só mistério, não tem segredo

Vem cá, não tenha medo

A água é potável

Daqui você pode beber

Só não se perca ao entrar

No meu infinito particular

(Arnaldo Antunes, Marisa Monte, Carlinhos Brown)

Hoje...





















Recordo-te a respirar ali
a casa no silêncio
o silêncio em ti
tu em mim
e depois não me lembro de mais nada

Sarah Adamopoulos

terça-feira, 6 de maio de 2008

Estrelas...


Tínhamos o céu, por cima de nós, constelado de estrelas e costumávamos deitar-nos de costas a olhar para elas e discutíamos se elas tinham sido feitas, ou tinham simplesmente aparecido.( Mark Twain )