terça-feira, 29 de julho de 2008

Temporada das flores


Que saudade agora me aguardem,
Chegaram as tardes de sol a pino,
Pelas ruas, flores e amigos,
Me encontram vestindo meu melhor sorriso,
Eu passei um tempo andando no escuro,
Procurando não achar as respostas,
Eu era a causa e a saída de tudo,
E eu cavei como um túnel meu caminho de volta.

Me espera amor que estou chegando,
Depois do inverno a vida em cores,
Me espera amor nossa temporada das flores.

Eu te trago um milhão de presentes,
Que eu achava que já tinha perdido,
Mas estavam na mesma gaveta,
Que o calor das pessoas e o amor pela vida...

Me espera estou chegando com fome,
Preparando o campo e a alma pra as flores,
E quando ouvir alguém falar no meu nome,
Eu te juro que pode acreditar nos rumores.

(Leoni)

terça-feira, 22 de julho de 2008


As cores da noite
recamadas de silêncio
preparam o dia.

Borboleta azul
raspa este céu de mansinho
insegura e frágil.

Havia o escuro
mas eu não sabia onde;
teu rosto era sol.



Eolo Yberê Libera

Pseudo Blues


Dentro de cada um
Tem mais mistérios do que pensa o outro
Uma louca paixão avassala a alma o mais que pode
O certo é incerto, o incerto é uma estrada reta
De vez em quando acerto, depois tropeço no meio da linha

Tem essa mágica
O dia nasce todo dia
Resta uma dúvida
O sol só vem de vez em quando
O certo é incerto, o incerto é uma estrada reta
De vez em quando acerto
Depois tropeço no meio da linha
(Nico Rezende/Jorge Salomão)

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Nem Bem Acordo


(Zeca Baleiro)

Nem bem acordo
Já espio teu retrato
Faço um trato com o espelho
Hoje eu não quero sentir dor
Hora do almoço
Falo teu nome
Santo nome em vão
O que consome
Meu corpo moço
Fome ou solidão

Não quero nada
Essa estrada eu já sei aonde vai dar
Vai dar em nada,
Não quero ir, nem voltar

Cinco da tarde
Tudo arde
Coração e céu
Fico com ar de
Quem espera
Um aceno um sinal
Já noite alta
Não sinto sono
Não te esqueço mais
Viro do avesso
Adormeço
Cansada de mim sem paz

Não quero nada
Essa estrada eu já sei aonde vai dar
Vai dar em nada,
Não quero ir, nem voltar

Hoje eu não quero dor
Hoje eu não quero flor
Não quero nada
Que rime com o amor

quinta-feira, 17 de julho de 2008


Bambayuque


Enquanto você na arquibancada eu na geral

Enquanto eu além de tudo você afinal

Enquanto eu rondó você madrigal

Enquanto eu paro e penso você avança o sinal

Enquanto você carta marcada eu canastra real

Enquanto eu lugar-comum você especial

Enquanto eu na cozinha você no quintal



Você dois pra lá

E eu dois pra cá

É a dança da nossa paixão



Enquanto você kamikaze eu general

Enquanto eu Paquetá você Cabo Canaveral

Enquanto eu média luz você carnaval

Enquanto você no Olimpo ai de mim mortal

Enquanto você brisa eu vendaval

Enquanto você Roberto eu Hermeto Paschoal



Enquanto você monumento eu pedra de sal

Enquanto você na folia eu no funeral

Enquanto eu matriz você filial

Enquanto você Branca de Neve eu Lobo Mau

Enquanto eu papai-mamãe você sexo oral

Enquanto eu na canção você no parque industrial

(Zeca Baleiro)

“Recomeça… se puderes, sem angústia e sem pressa e os passos que deres, nesse caminho duro do futuro, dá-os em liberdade, enquanto não alcances não descanses, de nenhum fruto queiras só metade.”
(Miguel Torga)

quarta-feira, 16 de julho de 2008


"(...)Eu quis chamar o homem, para lhe dar um sorriso,mas ele ia já longe, sem se voltar nunca,como quem não tem frente, como quem só tem costas(...)"

Guimarães Rosa (Magma- Editora Nova Fronteira)

(...)

eu disse a mim mesma que o mundo no qual eu acreditava haveria de existir em algum lugar do planeta! Haveria de existir![...]o mundo seria sim bonito e doce, o mundo seria cheio de amor e eu nunca mais ficaria doente. E, nesse mundo, ninguém precisa trocar amor por coisa alguma porque ele brota sozinho entre os dedos da mão e se alimenta do respirar, do contemplar o céu, do fechar os olhos na ventania e abrir os braços antes da chuva. Nesse mundo, as pessoas nunca se abandonam. Elas nunca vão embora porque a gente não foi um bom menino.

(...)
Rita Apoena

Eu apenas queria que você soubesse


Eu apenas queria que você soubesse
Que aquela alegria ainda está comigo
E que a minha ternura não ficou na estrada
Não ficou no tempo presa na poeira

Eu apenas queria que você soubesse
Que esta menina hoje é uma mulher
E que esta mulher é uma menina
Que colheu seu fruto flor do seu carinho

Eu apenas queria dizer a todo mundo que me gosta
Que hoje eu me gosto muito mais
Porque me entendo muito mais também

E que a atitude de recomeçar é todo dia toda hora
É se respeitar na sua força e fé
E se olhar bem fundo até o dedão do pé

Eu apenas queira que você soubesse
Que essa criança brinca nesta roda
E não teme o corte de novas feridas
Pois tem a saúde que aprendeu com a vida
(Gonzaguinha)

terça-feira, 15 de julho de 2008


Todos os dragões da nossa vida são, talvez, princesas que esperam ver-nos, um dia belos e corajosos. Todas as coisas aterradoras não são mais, talvez, do que coisas indefesas que esperam que as socorramos.
(Rilke)

segunda-feira, 14 de julho de 2008

A quem me faz feliz...


Quando me perguntam
Se eu estou amando
Logo vem o coração e diz:
“Amo as estrelas, amo certos olhos
Amo a quem me faz feliz”

Se algum amigo
Me acha distraído
Logo vem o meu sorriso e diz:
“Amo as estrelas, amo certos olhos
Amo a quem me faz feliz”

Existe alguém
E existirá
Que me faz queimar ou padecer de frio

E esse alguém
Sabe que chegou
E calou a dor de meu peito vazio
Triste é ser só

Sigo meu caminho
Mas não vou sozinho
Trago esse meu coração que diz:
“Amo as estrelas, amo certos olhos
Amo a quem me faz feliz”


Ivan Lins
Composição: Ivan Lins / Abel Silva

quinta-feira, 10 de julho de 2008

A Dança


Não te amo como se fosses a rosa de sal, topázio

Ou flechas de cravos que propagam o fogo:

Te amo como se amam certas coisas obscuras,

Secretamente, entre a sombra e a alma.

Te amo como a planta que não floresce e leva

Dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,

E graças a teu amor vive escuro em meu corpo

O apertado aroma que ascendeu da terra.

Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,

Te amo assim diretamente sem problemas nem orgulho:

Assim te amo porque não sei amar de outra maneira,

Senão assim deste modo que não sou nem és,

Tão perto que tua mão sobre o meu peito é minha,

Tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.

Antes de amar-te, amor, nada era meu:

Vacilei pelas ruas e as coisas:

Nada contava nem tinha nome:

O mundo era do ar que esperava.

E conheci salões cinzentos,

Túneis habitados pela lua,

Hangares cruéis que se dependiam,

Perguntas que insistiam na areia.

Tudo estava vazio, morto e mudo,

Caído, abandonado, decaído,

Tudo era inalianavelmente alheio,

Tudo era dos outros e de ninguém,

Até que tua beleza e tua pobreza

De dádivas encheram o outono.

(Pablo Neruda)

segunda-feira, 7 de julho de 2008


[...] sabe que o meu gostar por você chegou a ser amor, pois se eu me comovia vendo você, pois se eu acordava no meio da noite só pra ver você dormindo, meu Deus...como você me doía! De vez em quando eu vou ficar esperando você numa tarde cinzenta de inverno, bem no meio duma praça, então os meus braços não vão ser suficientes para abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta, mas tanta coisa que eu vou ficar calada um tempo enorme...só olhando você, sem dizer nada só olhando e pensando: Meu Deus, mas como você me dói de vez em quando!
( Caio Fernando Abreu )

Recuso os sonhos que te ignoram...


Recuso os sonhos que te ignoram e os desejos que não possas despertar. Não quero fazer um gesto que não te louve, nem cuidar uma flor que não te enfeite; não quero saudar as aves que ignorem o caminho da tua janela, nem beber em ribeiros que não tenham acolhido o teu reflexo. Não quero visitar países que os teus sonhos não tenham percorrido como taumaturgos vindos de fora, nem habitar cabanas, que não tenham abrigado o teu repouso. Nada quero saber de quem te precedeu em meus dias, nem dos seres que aí permanecem.

( Rainer Maria Rilke )

Amor é pra quem tem coragem.

Eu caminhava pela rua morna e opaca da minha vida. Não ia muito além de poucos passos contados ao redor dali, não me dava sequer ao luxo de contemplar alguns sonhos. Me trancava no meu castelo de certezas blindadas com sua segurança triste, me isolava atrás das cortinas desconhecendo a loucura que se esconde onde mora o sol. E assim, dobrava esquinas iguais e assistia filmes repetidos, cruzava avenidas monótonas em busca de nada, olhava na poça meus olhos desertos donos de um vazio sem fim. E assim permitia que as horas escorressem enquanto andava em círculos sem nada conhecer, deixando a vida passar à minha volta sem sentir e sem saber.

Até que ele apareceu na minha frente, o desconhecido tão decantado em linhas de poetas, histórias e lamentos em cada lugar do mundo, ao longo de tantos séculos... Surgiu trazendo borboletas ao meu redor, dentro de mim, e suas asas nas minhas costas. E eu abandonei o medo pesado que me puxava pra baixo, só pra ouvir sua voz de cântico celeste, suas frases vermelhas de tentação maluca.

Lembro como se fosse hoje: O Amor me olhou nos olhos - mistura de fogo com céu - e me puxou pela mão até as alturas infinitas.

O Amor me fez amiga das estrelas chamando-as pelo nome, colocando as luzes de todas elas no meu olhar. Me fez mãe de todas as flores exalando o perfume sagrado das fadas, e abraçar o sol espalhando seus raios por cada canto escuro de mim. Pôs a lua nas palmas das minhas mãos como um presente mágico e eterno, me convidou a recitar as mais incríveis profecias sagradas, me ensinou a tatuar poesia dentro do peito com versos encantados, e me fez desmaiar feliz num êxtase indizível de quem beija Deus.

O Amor rasgou num segundo minhas túnicas bordadas com cuidado, pintadas com carinho e inspiração, pra me despir de tudo e encarar o mundo assim - nua, exposta, indefesa. O Amor calou meus instintos introvertidos e me fez abrir-me inteira, corpo e alma, peito e boca. Me fez dar a cara a tapa, apostar todas as fichas, pagar pra ver. E eu paguei. Transparente diante de mil olhos, gritando segredos para mil ouvidos, caminhando sozinha entre mil lobos, eu fui.

O Amor era meu escudo, meu estandarte, meu patrimônio.

O Amor alterava sempre a previsão do tempo nas minhas praias ensolaradas, e de repente me fazia afogar em tempestades tristes e salgadas dentro de mim. O Amor me observava desfiar o meu rosário de lágrimas sob o travesseiro, e atravessar invernos gelados na Solidão dos meus porões internos mais empoeirados. Me trazia a visita esporádica e indesejada da Decepção, me convidava a conversas intermináveis com um Ciúme doente em especulações e investigações dolorosas e inúteis, onde no final eu era sempre autora do meu próprio crime.

O Amor transformava as madrugadas úmidas em masmorras negras, junto à Incerteza feia que marcava minha alma com seus flagelos. Me colocava frente a frente com o Orgulho, numa batalha cruel e sofrida contra mim mesma, e me prostrar chorando e abraçar os monstros que repudiei. O Amor me abandonava em abismos cheios de insetos adormecendo ao lado da Dor, e dançar um tango triste com a Angústia, que trazia seus discos velhos e arranhados pra me atormentar.

O Amor era minha renúncia, meu sacrifício, meu sacerdócio.

O Amor me fez nascer, morrer e ressuscitar em fração de segundos, tocar com os dedos as linhas extremas de cada emoção, flutuar e arder, gritar e cantar, abençoada e maldita, pecadora e santa, mortal e deusa. O amor me fez viver.

O Amor virou minha dádiva, meu idioma, meu santuário. Perpetuou todos os sorrisos, iluminou todas as estradas, desenhou cada emoção, justificou a minha vida.

Por isso eu não mais me revoltei contra seus inevitáveis espinhos - já havia aspirado a magia de suas pétalas, e mesmo que o sangue manchasse minha pele, já conhecia de perto a maciez de suas cores... Isso bastava.

Por isso quem maldiz o Amor jamais o conheceu. Quem nega sua existência nunca provou o gosto de um viver máximo, quem foge escondendo-se de sua presença jamais olhou sua face, quem pensa que o compreende e rotula sequer ouviu o som de seus passos...

Mas não adianta tentar te contar essas coisas, enquanto você não caminhar por onde caminhei, e viajar pelos destinos únicos que o Amor guardou naquele relicário dourado... Que tal sair também do teu castelo morto?

Pare de percorrer sozinho essa rua deserta e ridícula! Entregue-lhe sua mão, seu peito, seu ar, e depois volte aqui. Entre sem pedir licença, pouse à vontade, e me encare sinceramente pra dizer o quanto valeu a pena atrever-se a viver, pra me contar como foi bom ousar delirar, pra enfim concordar comigo: Amor é pra quem tem coragem (ainda bem que você teve).

Senta então ao meu lado, pra brindarmos nós três o gosto de um sábado qualquer com vinho tinto, e cantarmos leve no vento debaixo de uma lua muito mais sorridente...

(A menina Lunar)

sexta-feira, 4 de julho de 2008


"Enquanto arquitetavas maneiras de me manter presa a tua teia, eu lia e sugava o mundo como oxigênio.Teu conceito de sólido é líquido,escorrega pelas laterais feito óleo. Posso contar uma coisa? Durante os teus discursos metafóricos sobre uma realidade cheia de furos, as luzes da minha cabeça se apagavam,eu vestia a minha máscara e assim me permitia acreditar em cada palavra absurda proferida da tua boca linda. Mas a porta se fechava, as luzes se acendiam, você ia e eu ficava com as minhas crises incontroláveis de riso. Limite-se a sua pouca inteligência, não desafie a minha."

clara menina clara

O pássaro e a borboleta...


Tu me escreves assim:


Recado

O amor que eu por ti tenho é um afeto tão novo
Que não deveria se chamar amor.
De tão irreconhecível,
De tão desconhecido,
Que não deveria se chamar amor.
Poderia se chamar NUVEM
Pois muda de formato a cada instante;
Poderia se chamar TEMPO
Porque parece um filme a que nunca assisti antes;
Poderia se chamar LABIRINTO
Pois sinto que não conseguirei escapulir;
Poderia se chamar AURORA
Porque vejo um novo dia que está por vir;
Poderia se chamar ABISMO
Pois é certo que ele não tem fim;
Poderia se chamar HORIZONTE
Que parece linha reta mas sei que não é assim;
Poderia se chamar PRIMEIRO BEIJO
Porque não lembro mais do meu passado;
Poderia se chamar ÚLTIMO ADEUS
Que meu antigo futuro foi abandonado;
Poderia se chamar UNIVERSO
Porque sei que não o conhecerei por inteiro;
Poderia se chamar PALAVRA LOUCA
Que na verdade quer dizer aventureiro;
Poderia se chamar SILÊNCIO
Porque minha dor é calada e meu desejo é mudo;
E poderia simplesmente não se chamar
Para não significar nada e dar sentido a tudo...


...E hoje, com as tuas palavras nas minhas mãos e meus olhos postos na noite de então, "EU" respondo-te assim:


AMANHECIA

O dia amanhecia...
Ele , mas não eu !
Eu só amanheci
Quando te vi
Por aqui
Já o sol ia alto.

E então me aperaltei
Para te receber ...

Mas eu sabia de tu'alma meiga
Coração de manteiga
Suave e carinhosa
Linda por dentro e por fora
Inebriante como a rosa
E não aquele senhor
Emproado e fino.

E desaperaltei...
E falei
Ao teu jeito de menino .

Desse eterno adolescente
Como eu...
E o Céu
Ganhou mais cor
Porque falávamos de amor
De coisas simples e belas
De felicidade e janelas
Que abrimos na construção
Dum mundo sempre melhor.

Falávamos do coração
Da alma,
Do que se fez e do que se faz,
Do que ansiamos, a paz,
De ter um porto de abrigo .

Estivemos aqui os dois
Foste... saíste depois.
Mas foi lindo estar contigo!

(autor desconhecido)



"[...]e eu andava, e tudo que eu andava fazendo e sendo eu não queria que ele visse nem soubesse, mas depois de pensar isso me deu um desgosto porque fui percebendo, por dentro da chuva, que talvez eu não quisesse que ele soubesse que eu era eu, e eu era.[...]"

Caio F. - Além do Ponto